“Não”. É com essa palavra que eu gostaria de começar. Talvez pela força, pelo aparente poder que esse simples substantivo tem de transformar as nossas relações uns com os outros.
Dizem que quem tem a maior capacidade de dizer não em um relacionamento amoroso está sempre na frente. Dito isto, é preciso confessar que, pisciano convicto que sou, prefiro ser um perdedor, o maior de todos.
“É preciso aprender a dizer não”, eles dizem; “ceder é para os fracos”, eles sentenciam, sem antes levar em conta que não se trata de força ou fraqueza, mas de empatia e ocasião. Quer saber? Que se fodam todos eles!
Se me perguntarem se quero roubar ou assassinar alguém, é óbvio que direi não; mas se acaso me perguntam se eu quero me arriscar a quebrar meu coração e a sofrer feito um cão faminto abandonado na chuva por dar amor a alguém, a resposta será um entusiástico e retumbante SIM.
E não é que eu seja masoquista ou algo do tipo. É que acredito que relacionar-se com alguém não é um exercício de poder onde conquistar e dividir é tudo o que importa. Pode até parecer em alguns momentos e se você cometer o erro de se deixar levar por essa impressão, saiba que dificilmente haverá um vencedor.
Só os idiotas acreditam que ceder é sinal de fragilidade. Eles não sabem, não fazem ideia, do prazer que é participar da vida de outra pessoa por inteiro, de revelar-se sem medos, confessar-se homem ou mulher que cede ao outro não por defeito, mas por qualidade.
Essa dureza é fruto de uma mentalidade focada na suposta superioridade, em uma mania presunçosa de controle, a mesma que levou ao massacre de povos inteiros sob a alegação de que estes eram inferiores e que precisavam de comando.
Homem lobo do homem, até mesmo quando é o coração que está em jogo. Não é isso que desejo pra mim e para você, leitor. Entenda que estar errado é mais comum e às vezes mais sadio até do que estar certo o tempo todo e que sempre haverá discussões, ciúmes e brigas por coisas banais.
O importante é que cada um esteja pronto a admitir que errou quando chegar o momento, e que seja sempre por empatia e confiança, nunca por condescendência ou pressão.
E para que não acusem o escriba de ser passivo demais, permissivo demais, defendo que às vezes um não também cai bem. “Não, eu não quero ficar sem você” ou “não, eu não quero te perder”. Tudo o que é preciso para equilibrar bem essas duas palavras é sinceridade, não um jogo infantil de quem ama mais quem ou quem é mais forte que quem.
“Sim”. É com essa palavra que quero encerrar. “Sim, fui eu”, “sim, eu te amo” e “sim, eu tenho medo”, isso não se ensina na academia. Um sim a tudo o que for bom, sincero e humano. Um “sim” àquele “não” que eventualmente todo mundo irá dizer quando necessário e, acima de tudo, um “sim” à simplicidade de uma vida sem jogo, sem amarras e sem frescuras.